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A Estrada (The Road) – Quando a civilização acaba, a batalha pela sobrevivência começa!

Sinopse: Um evento cataclísmico atingiu a terra, devastando-a por completo. Milhões de pessoas foram erradicadas por incêndios, inundações, a energia elétrica se acabou e outras morreram de fome e desespero. Um pai e seu filho resolvem partir em uma longa viagem pela América destruída, em direção ao oceano, em uma épica jornada de sobrevivência nesse mundo pós-apocalíptico. Os dois devem permanecer unidos, contando com uma imensa força de vontade que mantém suas esperanças vivas, não importa a qual custo, para enfrentar todos os obstáculos, desde as condições adversas de temperatura até uma gangue de caçadores canibais.

Curiosidades: Baseado no romance de Cormac McCarthy, vencedor do Pulitzer de 2007. Mesmo escritor de 'Onde os Fracos não Têm Vez'. 'A Estrada' representa uma mudança surpreendente na ficção de Cormac McCarthy e talvez seja sua obra-prima. Mais que um relato apocalíptico, é uma comovente história sobre amadurecimento, esperança e sobre as profundas relações entre um pai e seu filho.

O lado real e assustador de A Estrada

Por Ton Müller

Bom, de todos os filmes que assisti do gênero, “A Estrada” foi um dos poucos que me fez refletir a certo ponto de ver que os filmes são o melhor meio de mostrar um resumo do que vem pela frente caso nosso Planeta entre em colapso. Sem comédia em nenhuma parte do filme, às vezes ele te arranca um sorriso e outro pelo momento doce de uma jovem criança contente ao descobrir uma lata de Coca-Cola velha e experimentar ela borbulhando na boca. Agora entendam que isso pode se tornar real, não foge em nenhuma parte do filme do que pode vir caso o núcleo da Terra entre em colapso criando terremotos, vulcões em plena atividade ao mesmo tempo nos quatro cantos da Terra e um colapso geral na economia mundial. O nosso fim, o fim de um ciclo.

Com as explosões solares nosso Planeta está recebendo altas cargas de radiação o que irá desencadear um processo natural, porém não contando com bilhões de pessoas em cima deste Planeta. Neste filme pai e filho são obrigados a sobreviver diante de problemas como estes, sem comida, roupa e abrigo.

Gangues à procura de carne (animal ou humana) farejam como cães de caça atrás de pessoas perdidas, não para ajudar, mas sim, para alimentar-se delas. Neste ponto da loucura Pai e filho precisam se unir, e aí que entra a parte bonita da história, o amor entre os dois é o que faz com que sobrevivam aos piores obstáculos. Coloque-se no lugar de um dos personagens e você sentirá o drama do que não está longe da realidade.

A dor da Realidade

Com trilha sonora quase nula o filme cria uma aflição em cima dos poucos sons criados no decorrer do Drama, enquanto isso uma fome imensa toma conta do espectador, pois no filme a procura por qualquer tipo de comida é tão intensa que o espectador vai lembrar-se da boa vida que tem assistindo ao filme ao alcance da geladeira e é nessa hora que a reflexão começa.

Você está preparado para uma catástrofe mundial? Esta mensagem é vista toda vez que você se depara com a precariedade de tudo ao redor dos dois personagens principais. Desde o que vestir, por nos pés, carregar consigo em caso de ferimentos, dor, mal estar e doenças pelo ar poluído. Não tinham nada a não ser um carrinho de supermercado aonde levavam poucas coisas que achavam pelo caminho. Em meio aquela imagem agonizante sem fim, sem esperança o pai levava consigo um revólver com duas balas, ensinando sempre que possível ao filho como utilizar daquela arma para se livrar do pesadelo, suicidando-se. Em minha opinião as cenas mais fortes de diálogo entre Pai e filho acontecem nestes momentos.

Fatores reais que levam à estrada

Temos uma economia mundial sendo modificados, fatores naturais do Planeta se alterando rapidamente, guerras e miséria tomando conta por simples ganância, e para nós pobres mortais a lei da sobrevivência irá predominar em momentos como estes. Você precisará ficar longe das estradas, longe dos caminhos, e fazer seu próprio rumo, mesmo sem saber aonde isso irá acabar.

Mas que nunca, jamais, deixe apagar a chama que existe dentro de você. A esperança é o que move o homem, e quando tudo mudar, isso será nosso bem mais precioso.

 

Forte abraço e bom filme. (Reflitam)
Ton.

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Os motivos da fome na África – Por que a comida não chega e para onde vai?

Estamos enfrentando um problema de acesso ao alimento, não de produção da comida

Vivemos em um mundo de abundância. Hoje se produz comida para 12 bilhões de pessoas, segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), quando no planeta habitam 7 bilhões. Comida existe. Então, por que uma em cada sete pessoas no mundo passa fome?

A emergência alimentar que afeta mais de 10 milhões de pessoas no Chifre da África voltou a colocar na atualidade a fatalidade de uma catástrofe que não tem nada de natural. Secas, inundações, conflitos bélicos… contribuem para agudizar uma situação de extrema vulnerabilidade alimentar, mas não são os únicos fatores que a explicam.

A situação de fome no Chifre da África não é novidade. A Somália vive uma situação de insegurança alimentar há 20 anos. E, periodicamente, os meios de comunicação nos atingem em nossos confortáveis sofás e nos recordam o impacto dramático da fome no mundo. Em 1984, quase um milhão de pessoas mortas na Etiópia; em 1992, 300 mil somalis faleceram por causa da fome; em 2005, quase cinco milhões de pessoas à beira da morte no Malaui, só para citar alguns casos.

Causas Políticas

A fome não é uma fatalidade inevitável que afeta determinados países. As causas da fome são políticas. Quem controla os recursos naturais (terra, água, sementes) que permitem a produção de comida? A quem beneficiam as políticas agrícolas e alimentares? Hoje, os alimentos se converteram em uma mercadoria e sua função principal, alimentar-nos, ficou em segundo plano.

Aponta-se a seca, com a consequente perda de colheitas e gado, como um dos principais desencadeadores da fome no Chifre da África, mas como se explica que países como Estados Unidos ou Austrália, que sofrem periodicamente secas severas, não sofram fomes extremas? Evidentemente, os fenômenos meteorológicos podem agravar os problemas alimentares, mas não bastam para explicar as causas da fome. No que diz respeito à produção de alimentos, o controle dos recursos naturais é chave para entender quem e para que se produz.

Em muitos países do Chifre da África, o acesso à terra é um bem escasso. A compra massiva de solo fértil por parte de investidores estrangeiros (agroindústria, governos, fundos especulativos) tem provocado a expulsão de milhares de camponeses de suas terras e diminuido a capacidade desses países de se autoabastecerem. Assim, enquanto o Programa Mundial de Alimentos tenta dar de comer a milhões de refugiados no Sudão, ocorre o paradoxo de os governos estrangeiros (Kuwait, Emirados Árabes Unidos, Coreia) comprarem terras para produzir e exportar alimentos para suas populações.

Ajustes estruturais

Asim mesmo, há que se recordar que a Somália, apesar das secas recorrentes, foi um país autossuficiente na produção de alimentos até o final dos anos 1970. Sua soberania alimentar foi arrebatada em décadas posteriores. A partir dos anos 1980, as políticas impostas pelo Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial para que o país pagasse sua dívida com o Clube de Paris forçaram a aplicação de um conjunto de medidas de ajuste.

No que se refere à agricultura, estas implicaram em uma política de liberalização comercial e abertura de seus mercados, permitindo a entrada massiva de produtos subvencionados, como o arroz e o trigo, de multinacionais agroindustriais estadunidenses e europeias, que começaram a vender seus produtos abaixo de seu preço de custo e fazendo a competição desleal com os produtores autóctones.

As desvalorizações periódicas da moeda somali geraram também a alta do preço dos insumos e o fomento de uma política de monocultivos para a exportação que forçou, paulatinamente, o abandono do campo. Histórias parecidas se deram não só nos países da África, mas também nos da América Latina e Ásia.

A subida do preço de cereais básicos é outro dos elementos assinalados como detonante da fome no Chifre da África. Na Somália, os preços do milho e do sorgo vermelho aumentaram 106% e 180%, respectivamente, em apenas um ano. Na Etiópia, o custo do trigo subiu 85% em relação ao ano anterior. E, no Quênia, o milho alcançou um valor 55% superior ao de 2010.

Na Bolsa de Valores

Uma alta que converteu esses alimentos em inacessíveis. Mas, quais são as razões da escalada dos preços? Vários indícios apontam a especulação financeira com as matérias-primas alimentares como uma das causas principais.

O preço dos alimentos se determina nas bolsas de valores – a mais importante das quais, a nível mundial, é a de Chicago –, enquanto que na Europa os alimentos se comercializam nas bolsas de futuros de Londres, Paris, Amsterdã e Frankfurt. Mas hoje em dia, a maior parte da compra e venda dessas mercadorias não corresponde a intercâmbios comerciais reais.

De acordo com Mike Masters, do Hedge Fund Masters Capital Management, calcula-se que 75% do investimento financeiro no setor agrícola é de caráter especulativo. Compram-se e vendem-se matérias-primas com o objetivo de especular e fazer negócio, repercutindo finalmente em um aumento do preço da comida para o consumidor final. Os mesmos bancos, fundos de alto risco, companhias de seguros que causaram a crise das hipotecas subprime são os que hoje especulam com a comida, aproveitando-se dos mercados globais profundamente desregulados e altamente rentáveis.

Transnacionais

A crise alimentar em escala global e a fome no Chifre da África em particular são resultado da globalização alimentar a serviço dos interesses privados. A cadeia de produção, distribuição e consumo de alimentos está nas mãos de umas poucas multinacionais que antepõem seus interesses particulares às necessidades coletivas e que, ao longo das últimas décadas, vêm destruindo, com o apoio das instituições financeiras internacionais, a capacidade dos países do sul de decidir sobre suas políticas agrícolas e alimentares.

Voltando ao princípio: por que existe fome em um mundo de abundância? A produção de alimentos se multiplicou por três desde os anos 1960, enquanto que a população mundial tão só duplicou desde então. Não estamos enfrentando um problema de produção de comida, mas sim um problema de acesso a ela. Como assinalou o relator da ONU para o direito a alimentação, Olivier de Schutter, em uma entrevista ao jornal El País: “A fome é um problema político. E uma questão de justiça social e políticas de redistribuição”.

Se queremos acabar com a fome no mundo, é urgente apostar em outras políticas agrícolas e alimentares que coloquem no seu centro as pessoas, as suas necessidades, aqueles que trabalham a terra e o ecossistema. Apostar no que o movimento internacional da Via Campesina chama de “soberania alimentar” e recuperar a capacidade de decidir sobre aquilo que comemos. Tomando emprestado um dos lemas mais conhecidos do Movimento 15-M, é necessário uma “democracia real, já” na agricultura e na alimentação.

 

Publicado originalmente no jornal El País
Autora: Esther Vivas, escritora e ativista espanhola
Tradução: Paulo Marques
Fonte
Agradecimento: Leonaldo Gregol

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