Manuscrito sobre a Arca de Noé de 1493. Foto: Reprodução/Daily Mail
A passagem bíblica sobre a grande inundação que castigou a Terra e levou Noé a construir uma arca com todos os animais do mundo pode ter realmente acontecido.
E quem defende a ideia é alguém que entende de embarcações: afinal, ele achou nada menos que os restos do Titanic.
O arqueólogo submarino Robert Ballard afirma que ele e sua equipe descobriram evidências que apontam a real existência de um grande dilúvio como o retratado na Bíblia.
O arqueólogo submarino Robert Ballard afirma que ele e sua equipe descobriram evidências que apontam a real existência de um grande dilúvio como o retratado na Bíblia.
Robert investigou uma teoria controversa de dois cientistas da Universidade de Columbia sobre uma grande inundação ocorrida na região do Mar Negro.
Robert disse à ABC News que há 12 mil anos atrás o mundo era quase todo coberto de gelo e o Mar Negro era um lago cercado de terras agrícolas.
Em 5600 a.C., contudo, quando as geleiras derreteram, toda essa água foi para os oceanos. Isso causou inundações no mundo todo. Muita água passou pelo Estreito de Bósforo (que hoje separa as porções europeia e asiática da Turquia), alimentando o Mar Negro.
“Onde eu moro, em Connecticut, havia gelo 1,6 km acima da minha casa, até o polo norte, com cerca de 15 milhões de quilômetros, é um grande cubo de gelo. Mas aí ele começou a derreter. Estamos falando de inundações que ocorreram na história humana. A pergunta é: houve a mãe de todas as inundações?”, questiona Robert.
A pesquisa dele segue um outro estudo de William Ryan e Walter Pitman, conduzida em 1997. Eles usaram evidências arqueológicas e antropológicas para chegar à conclusão de que “16 km³ de água derretiam diariamente” por um período de 300 dias.
Toda essa água inundou quase 100 mil km² de terra, e o nível do lago subiu centenas de metros até que ele se conectasse ao Mediterrâneo, gerando uma migração em massa de animais pela Europa.
A força das águas, segundo eles, era 200 vezes maior que a das Cataratas do Niágara, levando tudo que estivesse em seu caminho. Isso transformou o Mar Negro, outrora um lago de água doce, em uma enseada de água marinha.
Os pesquisadores usaram datação de carbono e imagens solares e afirmaram que o dilúvio de Noé ocorreu devido a uma catástrofe natural.
Conforme Robert afirmou: “Nós fomos lá para procurar pela inundação. Não apenas um lento aumento no nível do mar, mas uma grande inundação”.
A equipe encontrou uma margem litorânea que pode servir como prova de tal cataclismo. Por meio de datação de carbono de conchas encontradas 120 metros abaixo da superfície, Robert constatou que tal evento deve ter ocorrido aproximadamente em 5000 a.C.
A teoria defende também que a história de Noé teria surgido conforme o desastre era contado de geração em geração. A bíblia descreve Noé como um pai de família, com três filhos, prestes a celebrar seu 600º aniversário.
“Nos primeiros capítulos do Gênesis, as pessoas viviam 800, 700, 900 anos. São números míticos, são muito grandes. Nós não sabemos exatamente o que fazer com isso. Então, às vezes, esses números grandes, eu acho, também servem para reforçar o mistério do texto”, diz Rabbi Burt Visotzky, um professor de Talmude e Rabínicos do Seminário Teológico Judeu em Nova Iorque.
Outros achados da equipe de Robert incluem uma antiga carcaça de navio e cerâmica antiga. Ele não acha que encontrará a Arca, mas isso seriam evidências de uma comunidade antiga que foi devastada pela água.
O Gênesis descreve o dilúvio como uma medida de Deus para varrer a corrupção humana do planeta. Noé é então instruído a construir a arca para salvar todos os animais, sua família e ele mesmo. No livro, a arca tinha 137 metros, como é dito. Mas nunca foram encontradas evidências de sua existência.
Conforme comenta Robert, “o mais antigo navio naufragado que descobrimos até agora naquela área é de mais ou menos 500 a.C., período clássico. Mas a questão é que você continua procurando. É uma questão de estatística”.
Mesmo sem esperanças de encontrar a Arca, Robert espera encontrar ao menos evidências de um povo que teve toda a sua vida varrida pela água há 7 mil anos. Para tanto, ele deve retornar à Turquia com sua equipe no próximo verão (inverno, no Brasil).
O Gênesis 8:4 afirma que a Arca aportou “nas montanhas de Ararat”, que ficariam onde hoje é a Armênia e o leste turco.
Alguns estudiosos da Bíblia consideram a história da Arca de Noé uma variação dos contos de inundações da Mesopotâmia, particularmente Epopeia de Gilgamesh. São narrativas antigas que já passavam de geração em geração bem antes de Noé aparecer na Bíblia.
O arqueólogo bíblico Eric Cline comenta: “As primeiras histórias mesopotâmias são muito similares onde os deuses estão enviando uma inundação para varrer os humanos. Há um homem que eles escolhem para sobreviver. Ele constrói um barco e traz animais e vai parar em uma montanha e é feliz para sempre? Eu argumentaria que é a mesma história”, de acordo com o britânico Daily Mail.
O arqueólogo bíblico Eric Cline comenta: “As primeiras histórias mesopotâmias são muito similares onde os deuses estão enviando uma inundação para varrer os humanos. Há um homem que eles escolhem para sobreviver. Ele constrói um barco e traz animais e vai parar em uma montanha e é feliz para sempre? Eu argumentaria que é a mesma história”, de acordo com o britânico Daily Mail.
Os estudiosos não sabem com certeza se a suposta inundação foi maior que, por exemplo, o tsunami de 2004 no Oceano Índico ou o Furacão Katrina. Mas eles acreditam que as pessoas naquela época passaram pelos mesmos problemas que as vítimas dessas catástrofes mais recentes.
“Se você testemunha um desastre natural terrível, sim, você quer uma explicação científica do motivo do acontecimento. Mas você também precisa de algo que te ajude a amenizar sua dor, angústia e raiva. E é aqui que os mitos nos ajudam nisso”, diz Karen Armstrong, autor de A History of God (Uma História de Deus, em tradução livre).
Seja a história de Noé verdadeira ou não, o autor acredita que esta e todas as outras histórias bíblicas nos contam “sobre nosso predicamento no mundo hoje”.
Fonte: Jornal Ciência