Cientistas descobriram que os peixes-bruxa podem fornecer fios de seda, assim como aranhas
As fibras tradicionais, feitas com polímeros como nylon, raiom e poliéster, têm petróleo como matéria prima, o que as torna vilãs do meio ambiente.
Mas as fibras “ecologicamente corretas” têm sido encontradas em teias de aranha e bicho da seda. E agora uma nova alternativa pode entrar para este rol de produtores de fibras sustentáveis: o peixe-bruxa, uma espécie mais parecida com enguia do que com peixe, encontrada no fundo dos oceanos Atlântico e Pacífico. Eles produzem uma fibra baseada em proteínas que pode ser transformada em lençóis.
A descoberta foi feita por pesquisadores da Universidade de Guelph, no Canadá. O estudo foi publicado na edição mais recente da revista Biomacromolecules.
Os peixes-bruxa produzem um muco toda vez que se sentem irritados ou ameaçados. Ele é liberado por glândulas espalhadas pela pele e reagem, quando em contato com a água marinha, se expandindo até formar uma região mucosa e viscosa em volta dele.
Este muco possui milhares de fibras e os biólogos marinhos acreditam que ele serve para defender o peixe-bruxa, fechando as guelras. Desta forma, predadores como tubarões desistem rapidamente de comer o peixe caso tentem abocanhá-los.
A fibra do peixe-bruxa não é tão forte quanto a da aranha: possui 70% de sua força. Mas ela pode ser produzida em massa, disse Douglas Fudge, professor associado de biologia integrativa e chefe do laboratório onde a pesquisa foi realizada. “Já houve uma grande quantidade de pesquisa sobre a produção [em massa] da seda da aranha, mas elas ainda não chegaram a nenhuma conclusão relevante”, disse ele ao LiveScience.
A produção em massa, no caso, não envolveria a criação de peixes-bruxa (até porque, pouco se sabe sobre como eles se reproduzem), mas sim a sintetização das fibras uma vez que a sua química fosse mais bem compreendida, diz a equipe.
Para conseguir as fibras, os pesquisadores anestesiaram um peixe-bruxa do Atlântico (mais precisamente um Myxine glutinosa) e o estimularam a fabricar a seda. Fora da água salgada, o muco é secretado em quantidades pequenas, de milímetros, apenas.
Nesta forma, ele é chamado de mucina. As fibras são feitas por células simples dentro das glândulas de muco, mas neste local, elas ainda não formam longas cordas, e sim bolas de fios.
Para conseguir as fibras, os pesquisadores colocaram a mucina em uma solução de citrato de sódio, para separar as fibras da mucina.
Os fios são então liofilizados em vácuo numa temperatura de - 80ºC. Quando secos, os fios são dissolvidos em ácido fórmico, e então colocados em uma solução de sal, onde as proteínas que formam as fibras formam um filme no topo da solução – filmes que podem ser divididos em fios ou ainda transformados em revestimento.
“Houve outro fenômeno interessante: você podia fazer esses filmes finos. Uma pergunta que nós fizemos era se nós podemos fazer algo interessante com eles”, disse Atsuko Nagishi, um pesquisador pós-doutorado que liderou o estudo.
“Houve outro fenômeno interessante: você podia fazer esses filmes finos. Uma pergunta que nós fizemos era se nós podemos fazer algo interessante com eles”, disse Atsuko Nagishi, um pesquisador pós-doutorado que liderou o estudo.
Os próximos passos devem consistir em investigações mais profundas sobre a química dos fios, e procurar meios de produzi-los sem os peixes-bruxa. Douglas notou que os biólogos celulares conseguem fazer com que células produzam certas proteínas, mas o estudo aqui abordado não chegou a trabalhar nesta possibilidade.
“Estamos tentando criar algo mais sustentável e renovável. Mas nós não queremos depender do peixe-bruxa”, disse Atsuko.
Fonte: Jornal Ciência