Lendas Urbanas Argentinas: as almas das mulheres que assombram a Recoleta



Reais ou não, estas três histórias de mulheres que voltaram da morte tem seu testemunho vivo no Cemitério da Recoleta.

Enciclopédias e dicionários definem as "lendas" como as historias relacionadas sempre com uma cidade, povoado ou comunidade que ocasionalmente se baseiam em fatos reais adaptados a distintas épocas.


Assim mesmo existem histórias “importadas” ou que circulam há muitos anos por distintas comunidades: desde Madri até Pergamino, passando por San Juan, Porto Rico ou Assunção, Paraguai, entre outras.


Há sem dúvida, histórias locais que são similares as lendas que circulam, adaptadas a Buenos Aires mas com uma diferença: as mulheres que protagonizam as fábulas existiram, e há provas de sua existência. Para os leitores céticos que por ventura não acreditem em  mulheres rancorosas que voltam da morte.


O curioso é que não é preciso recorrer a autores de ficção, mas ao próprio Cemitério da Recoleta, através de sua fundação de amigos, da testemunhos das historias por trás dos epitáfios, ainda que claro, muitos autores adornem estas historias e lhes dêem certo ar fantástico.



RUFINA CAMBACERES





A primeira das historias é a conhecida e comum “Dama de Branco” da Recoleta, e corresponde a trágica morte de Rufina Cambaceres, filha do escritor Eugenio Cambaceres e da bailarina italiana Luisa Baccichi (“La Bachicha”). 


Mãe e filha ficaram sozinhas após a morte do escritor, e por fazerem parte da alta sociedade de fins do século XIX, a italiana chegou a ser “la querida” do futuro presidente Hipólito Yrigoyen.


Rufina tinha então, somente catorze anos. Testemunhos da época dizem que a jovem era bonita, por isso muitos jovens a desejavam, mas ela lhes era indiferente, talvez por sua personalidade tímida e introvertida.

Quando cresceu, a mãe viúva de Rufina tornou-se amante de Yrigoyen. Em 31 de maio de 1902 a jovem cumpria 19 anos, e sua mãe, Luísa, havia organizado uma ida ao teatro Colón, para escutar ópera.


Finalizado o festejo, era hora de sair para o teatro, mas Luísa ouviu um grito aterrorizante de uma das mucamas, que tinha encontrado o corpo da jovem estendido no chão, morta.



Aquí aparecem várias lendas: uma conta que Luísa mantinha relações com o noivo de Rufina e que sua melhor amiga lhe deu a noticia, causando-lhe tal desgosto que caiu no chão.


Em um livro de Victoria Azurduy figura uma versão um tanto assustadora: Luísa e seu amante don Hipólito deram um sonífero a sua filha para poder encontrar-se clandestinamente. Nessa noite erraram a dose e Rufina entrou em um coma profundo, do qual despertou em sua tumba.


Uma terceira variante da historia conta que Rufina conseguiu sair de seu ataúde e que ao se encontrar só e de noite em pleno cemitério, morreu de um ataque do coração. Neste ponto, há quem diga que o ataúde foi encontrado aberto.


Oficialmente se acredita que roubaram o caixão devido as jóias que a morta levava, mas sua mãe carregou o peso na consciência de saber que sua filha foi enterrada viva porque sofria de catalepsia, a enfermidade mais temida da época, e que ao despertar em um caixão, o susto lhe provocou uma parada cardíaca.


Rufina Cambaceres também é conhecida como a mulher que morreu duas vezes. Em seu túmulo uma estátua de uma menina bonita segura na mão a maçaneta de uma porta, e tenta abrir em vão o mausoléu. Se supõe que o espírito rancoroso de Rufina passeia no cemitério enquanto tenta aliviar a dor que lhe causou saber do amor de sua mãe e seu prometido.


LILIANA CROCCIATI




Liliana Crocciati morreu aos 20 anos durante sua lua de mel em Innsbruck, Áustria, em 1970. Uma avalanche caiu sobre o hotel onde se hospedavam ela e seu esposo.


A familia construiu para ela um templo neogótico luxuoso, "com detalhes que ela teria amado", segundo o trabalho sobre o cemitério da Recoleta feito pelo oftalmologista Omar Lopez Mato.


Descreve o autor:

"Um salão enorme com um tipo de living que abriga o caixão, coberto por um sahri que Liliana tinha comprado na Índia. Estão suas fotos, uma pintura a óleo feita por uma amiga, e na porta uma escultura que representa a vida, com um vestido e cabelos longos, acompanhada de seu cão, Sabú".

Embora ambos tenham sido sepultados pela avalanche, as autoridades nunca encontraram o corpo do viúvo de quem nunca se soube nada. O túmulo de Liliana é sempre mantido por funcionários do cemitério, e os pais o preenchem de flores de todos os tipos, como gostava sua filha.

Ocasionalmente, diz-se que um personagem misterioso deixa um buquê de flores, mas nunca se deixa ver, porque escapa quando se aproxima um vigia ou zelador. Será que o viúvo não morreu e ainda enamorado, chora e se lembra da morte de Crocciati ?



LUZ MARÍA GARCÍA VELLOSO





Velloso é a morta mais jovem: faleceu aos 15 anos de leucemia, em 1925.


A ela se atribui também o nome de “Dama de Branco” e a lenda urbana mais conhecida do mundo: a menina sai para dançar, conhece um jovem que se sente muito atraído por ela e se gostam muito. Ele empresta a jaqueta para aliviar o frio e ela a mancha de café. 


O garoto deixa a jaqueta com a promessa de buscar depois, usando um velho truque para voltar a vê-la, quando vai na sua casa para recuperar a jaqueta, a mãe de Luz  informa que sua filha está morta há 3 anos e enterrada na Recoleta.


O jovem não só encontra a tumba, mas para seu espanto, vê sobre o túmulo sua jaqueta manchada de café. Versões contam que o garoto enlouquece, e outras que sai apavorado e horrorizado pela traumática imagem.


Algumas alternativas para a história dispensam a visita a mãe, e dizem que uma vez terminado o encontro, ela vai direto para o cemitério após terminar a noite, momento que o rapaz percebe que ela é um espectro, depois de segui-la e ver que a garota some entre os túmulos.


Na tumba, Luz Maria é representada dormindo, e se diz que sua mãe dormiu ali a seu lado por um tempo, logo depois que morreu.



Tradução: Carlos de Castro



Fonte: Minutouno