Disco voador ou meteorito visto em Beja?



No “Varandim da Cidade”, de Melo Garrido, na edição de 22 de outubro de 1962 do Diário do Alentejo:


“Nem sempre, deste posto de observação, se descortinam os mais falados ou palpitantes assuntos locais com a rapidez que seria de desejar... Por isso há a confessar hoje uma falta, pedindo para ela a benevolência dos leitores...

De fato, falhou, na nossa edição de anteontem, o registo de um caso que despertou a curiosidade, ou mesmo a emoção, de um numeroso setor da população bejense: nada menos que um ‘corpo estranho’ e brilhante que, na manhã de sábado, cerca das 7 horas, foi visto a deslizar vertiginosamente sobre a cidade, no sentido do centro para a igreja do Salvador, e que por cima daquele templo se desfez em três partes, as quais, poucos segundos depois, deixaram de se tornar visíveis, assim como o rastro de luz que por instantes os acompanhavam. É esta a versão de várias testemunhas oculares, uma delas merecendo a nossa confiança e que hoje cedo veio à nossa redação a dar-nos conta do insólito fenômeno.

Evidentemente que várias hipóteses se imaginam para a sua explicação. Desde os já famosos discos voadores até ao banalíssimo aerólito. Mesmo as numerosas pessoas que não o observaram, por estarem ainda entregues às delícias do sono, têm a sua opinião formada...

De qualquer maneira, o caso merece a referência que hoje lhe fazemos, embora algo atrasada. E a nós, que também não o presenciamos, agrada-nos mais ‘admitir’ que se trate de um disco-voador, pois Beja, até agora, estava totalmente esquecida por estes enigmáticos ocupantes do espaço aéreo. E era uma ‘desconsideração’ que a cidade não merecia...”.

Dois dias depois, o jornalista Melo Garrido voltava ao assunto:

“A propósito do fenômeno meteorológico de sábado passado, a que nesta seção fizemos anteontem referência, recebemos a seguinte informação:


‘Precisamente à hora em que nesta cidade foi observada a explosão de qualquer objeto a grande altitude, no sítio de N.ª Sr.ª da Cola, 12 quilômetros a sul de Ourique, alguns trabalhadores que ali chegavam para começarem a tarefa diária nas escavações arqueológicas, avisaram o dirigente destas de terem acabado de ouvir um grande estampido, que por algum tempo reboou, que se não parecia com trovão nem com barreno de pedreira, antes fazia lembrar um fortíssimo tiro de canhão. E o estrondo parecia vir da costa do Algarve, na direção da serra de Monchique. (...) Conjugadas as observações de Beja e Sr.ª da Cola, parece não haver lugar para dúvidas: tratou-se efetivamente de um meteorito.’ Sendo assim, temos que lamentar o fato de não ter sido ainda desta vez que Beja recebeu a honra da visita de um ‘disco voador’...”.



Carlos Lopes Pereira